Coordenador da base do Fortaleza faz mudanças no clube e trabalha por maior interação com time profissional

A partir dos anos 90, o Vitória chamou a atenção do mundo com grandes revelações. Entre as feras que saíram do Barradão, estão Vampeta, Dida, Paulo Isidoro, Dudu Cearense, David Luiz, Hulk, Elkeson e Anderson Martins, entre outros nomes. Em comum a eles está o fato de todos terem passado pelas mãos de Luciano Reis, seja como técnico ou coordenador. Hoje, aos 53 anos e no papel de homem forte da base do Fortaleza, ele bateu um papo com o DaBase para relembrar os bons momentos da vitoriosa carreira e fazer uma análise das nossas categorias de base nos dias atuais. Confira abaixo a entrevista especial e exclusiva.

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Luciano Reis é o coordenador da base do Fortaleza

DaBase: Você ainda é lembrado pelo que fez nos tempos de futebol baiano. O que estes trabalhos tiveram de tão especiais?

Luciano Reis: Na verdade, por ter feito parte desde o início da equipe do nosso mestre e responsável por tudo que aconteceu na divisão de base da Bahia, Newton Motta. Trabalhamos 17 anos juntos, tanto no EC Bahia quanto no EC Vitoria, e os anos que trabalhei com Sinval Vieira no nosso retorno dos Estados Unidos, creio que ficou marcado, pois além do trabalho que eram feitos com os atletas, tivemos a oportunidade de iniciarmos a carreira de vários profissionais que hoje fazem sucesso no futebol mundial.

O Motta era perfeccionista e sempre gostou de um futebol bonito, e de qualidade, e nós éramos contagiados com o que ele sempre nos cobrava. E isto nos fez  um treinador na época vencedor, e responsável direta ou indiretamente pelo futuro de inúmeros atletas, mas o mais importante foram as comissões que tive o prazer de trabalhar, pois todos eles foram profissionais que, como eu, estavam começando com uma visão de futebol futurista. Eram profissionais como Sergio Moura, Oldegard Filho, Zé Augusto, Hamilton Mendes, Carlos Anunciação, Mario Augusto, Bryan Roy, Francisco Cersozimo, Eduardo  Bahia, Ricardo Palmeira. Ângelo Alves, Chiquinho de Assis, Luciano Junior, Vinicius dos Santos. Estes e outros profissionais nos auxiliaram e foram responsáveis pelo nosso sucesso.

Profissionais que se formaram com Luciano Reis
Profissionais que se formaram com Luciano Reis

DaBase: Qual o maior aprendizado da época de treinador?

LR: Meu maior aprendizado foi ter trabalhado com Newton Motta, no Bahia, Sinval Vieira, no Vitória, e Les Armstrong, nos Estados Unidos, onde trabalhar a qualidade individual dos atletas no dia a dia era o nosso maior trunfo. E, principalmente, a visão que cada um tem em diferentes aspectos. Estas três pessoas foram responsáveis diretos pelo conhecimento que adquirimos.

DaBase: Gestor também tem ídolo?

LR: Claro, estes três que citei são meus ídolos no trabalho de base.

DaBase: Você passou muito tempo nos EUA. O que te fez voltar ao Brasil?

LR: Passei 9 anos. O futebol americano quando nós chegamos, tinha já a visão de que iria crescer bastante (hoje é outra realidade). Trabalhei em clube como treinador no primeiro momento e, depois de alguns anos, decidi ser coordenador técnico para poder desenvolver o projeto que achávamos que poderia ajudar no desenvolvimento do futebol naquele país. Percebemos que seria difícil chegarmos a trabalhar nos grandes clubes, pois era e é muito fechado, e, na verdade, existem poucos clubes profissionais, portanto seria mais difícil ainda.

Como tivemos oportunidade nestes anos de aperfeiçoar nossos conhecimentos, através de cursos para treinadores e para coordenador técnico, comecei a pensar em fazer o processo inverso. Retornar ao Brasil e poder ajudar no desenvolvimento do futebol no nosso país, principalmente no que diz respeito a planejamento e organização dos treinamentos nas categorias menores.

Luciano Reis trabalhou 9 anos no futebol dos Estados Unidos
Luciano Reis trabalhou 9 anos no futebol dos Estados Unidos

DaBase: Qual a grande diferença das categorias de base do futebol brasileiro pro americano?

LR: A maior diferença fica por conta da organização dos treinamentos. Eles são ótimos. E porque eles jogam mais torneios durante o ano, são mais competitivos.

DaBase: Como está o trabalho no Fortaleza? Quais os principais virtudes e desafios do clube nas categorias de base?

LR: Aqui no Fortaleza temos algumas dificuldades, pois não há o investimento adequado (mas alguns diretores estão demonstrando interesse em mudar este cenário) para desenvolver os atletas. Temos um Centro de Treinamento de dar inveja a muitos clubes: são quatro campos, mas dois mini-campos, está sendo construído dois paredões, sala de musculação muito boa, alojamento com capacidade para 90 garotos (mas não estamos usando ainda os alojamentos).

O Vice-Presidente Ênio Pontes Mourão, Daniel Pessoa, Dr. Evangelista Torquato, e nosso novo diretor da Base, José Jario, dentre outras, vêm se dedicando para dar o apoio necessário para que possamos desenvolver o trabalho.

DaBase: Até então, quais foram seus principais feitos no clube?

LR: Criamos a Categoria sub-16, com Marconne Montenegro, que vem fazendo um ótimo trabalho com o grupo. Só existiam as categorias, sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20. Pretendemos criar as categorias sub-14 e sub-18.

Não existia histórico de captação e desde o ano passado começamos a fazer captação, e criamos também um dia para avaliação de jogadores no nosso CT, começamos a fazer avaliação nas periferias de Fortaleza e visitas nas cidades do Estado.

Estamos criando os núcleos das escolinhas do Fortaleza, nas regiões Metropolitanas e bairros de Fortaleza. Futuramente, iremos abrir em cidades pelo Estado.

Já conseguimos muitas coisas desde a nossa chegada: trouxemos 28 jogadores para o clube. Destes, 20 são titulares nas suas respectivas categorias, e muitos deles já sondados para irem para o profissional e recebendo convites de clubes da Serie A. O jogador Felipe, lateral direito/volante, que é titular no profissional, foi indicação nossa para o clube.

Quem esteve na Supercopa em Natal Sub-17 já percebeu uma grande diferença na nossa filosofia de trabalho. O time colocando a bola no chão. Muito competitivo. Este mesmo grupo tinha ido para Copa Carpina e não foi muito bem. Tempos depois, este mesmo elenco está muito bem, após a introdução de nova metodologia, que foi abraçada pela comissão técnica do sub-17, com o Zé Carlos técnico e Leandro Monteiro, preparador Físico (estes profissionais têm futuro).

DaBase: Quais as metas que você tem de curto, médio e longo prazo no Tricolor?

LR: Na verdade, nosso plano no primeiro momento é sensibilizar toda diretoria de que a base de um clube é fator prioritário e, tendo estes investimentos, poderemos qualificar o trabalho e seguir o que o Sport de Recife vem fazendo no Nordeste, no momento, sendo destaque em divisão de base. Bahia e Vitoria já estão solidificados no Brasil em divisão de base.

Na nossa visão, com um trabalho qualificado e com a grande quantidade de jogadores que tem no nordeste, em três anos poderíamos começar a incomodar os grandes do Nordeste em Divisão de base, como EC Bahia, EC Vitoria e Sport Clube do Recife.

Luciano Reis tem feito melhorias na base do Fortaleza
Luciano Reis tem feito melhorias na base do Fortaleza

DaBase: Ouvimos especulações de que você foi sondado por outros clubes do nordeste como América-RN. Isso procede? Fale mais sobre como está o assédio ao seu trabalho.

LR: Na verdade, fui procurado por um diretor que assumiria a base do America de Natal, mas disse para ele que estava há pouco tempo no Fortaleza, e que sempre gosto de cumprir meus contratos. Não seguimos muito no assunto.

Sempre algumas pessoas (empresários e clubes) me ligam para saber se poderíamos conversar. Mas ficam apenas nas perguntas.

DaBase: O clube vive um drama para sair da Série C. Acha que o profissional deve recorrer à base neste momento tão delicado?

LR: Creio que esta diretoria esta fazendo um trabalho muito bom. Marquinhos Santos, o treinador, desde que chegou, tem modificado muita coisa no clube. A visão dele sobre futebol é fantástica. Creio que este ano o clube subirá.

Sobre jogadores da base, não creio que este seria o momento, o momento deles terem estas oportunidades seriam no Estadual, mas como Marquinhos já chegou no meio do estadual, não houve tempo suficiente para ele poder fazer estas experiências.

Primeiro da esquerda, Luciano Reis vibra com conquistas desde a base do Vitória
Primeiro da esquerda, Luciano Reis vibra com conquistas desde a base do Vitória

DaBase: Hoje, quem você acha que já está pronto para atuar pelo profissional do Fortaleza?

LR: Existem sim alguns garotos que percebemos que tem futuro, mas como eu disse, teremos que termos paciência, pois o momento deles vai chegar. Exemplos:

Laerth, Lateral esquerdo (98); Luis Henrique, atacante (98); Esdras, volante (97); Andrés, meia boliviano (99). E diria que, se o Edilson, atacante (97), se dedicasse e percebesse que o futebol é importante para ele, colocaria ele tbm nesta lista.

DaBase: E entre os mais novos, existe algum destaque individual?

LR: Existe sim. Na Supercopa Natal, alguns garotos já demonstraram que terão futuro. Tem também alguns garotos do sub-15 que já mostram que vão longe.

DaBase: Muito se fala em qualidade dos atletas, mas pouco se aborda sobre a qualidade e qualificação dos profissionais da base. Como você trabalha esses pontos com seus técnicos, auxiliares e staff em geral?

LR: Desde o tempo que trabalhamos nos clubes, tanto no Brasil quanto no exterior, sempre houve um grupo de . estudo. Nos EUA, éramos “obrigados” a assistir determinados jogos para trocarmos informações nas reuniões que aconteciam toda quinta pela manhã.

Na época do Bahia e do Vitoria, criamos um grupo de estudo para podermos discutir o futebol e aprender a cada dia um com os outros. Existia uma grande identidade.

E hoje, com a internet e com os programas de futebol, criação de treinamentos, análise de desempenho e etc, ficou muito mais fácil interagir.

Estamos, gradativamente, aplicando aqui no Fortaleza, sabemos que é difícil mudar hábitos, mas gradativamente vamos conseguindo.

DaBase: Olimpíadas vem aí e vários jovens jogadores estão sendo colocados à prova. Acha que estamos preparados para a tão sonhada medalha de ouro?

Coordenador do Fortaleza aposta no futebol de Gabigol (Foto: Ivan Storti/divulgação/Santos FC)
Coordenador do Fortaleza aposta no futebol de Gabigol (Foto: Ivan Storti/Santos FC)

LR: Creio que sempre seremos fortes, pois jogadores brasileiros serão sempre imprevisíveis e este é o nosso diferencial.

DaBase: Em sua opinião, quem são os três atletas até 23 anos mais promissores do futebol brasileiro?

LR: Gosto muito do Gabigol, Gabriel de Jesus e do Tiago Maia, volante do Santos.

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